O cenário político atual do Brasil é horroroso, vil, baixo, enojante. O resultado de mais de um século de república é uma desordem difícil de explicar, porém fácil de criticar, em que pese a falta de adjetivos para descrever tamanho lamaçal. A política partidária nacional é falida, os partidos nunca estiveram tão longe de ter uma verdadeira base popular, são dominados por bandidos, a qualidade dos candidatos parece cada vez pior e o sistema eleitoral coloca no poder apenas 5% dos deputados efetivamente através do voto. Eu poderia ficar aqui criticando a democracia por todos os seus insuperáveis problemas, contudo há mentes muito superiores à minha que já se dedicaram com sucesso a demolir o castelo de falácias sobre o qual tremula a bandeira democrática. Não, o que eu quero discutir hoje é a situação atual, infelizmente.
A realidade é que estamos hoje a meio caminho de nos tornarmos um narcoestado dominado principalmente pelo PCC, que apadrinha cada vez mais candidatos não só em São Paulo, de onde é originário, mas por todo o país, além disso, temos uma suprema corte absolutamente comprometida com a agenda progressista/globalista e cujo autoritarismo parece não ter fim, principalmente na pessoa de vocês sabem quem. O presidente da república é um ex-sindicalista que sequer completou o ensino primário e ostenta isso como uma virtude, o mais impressionante, porém, é que esta não é sua pior característica: ele é também um ex-presidiário condenado por diversos escândalos de corrupção, cujas sentenças foram revertidas pelo supracitado tribunal, só para que ele pudesse concorrer contra o desafeto Bolsonaro e dar aparência de legimitidade ao resultado das eleições.
Muito me admira os brasileiros - e, para constatar isto, basta frequentar um pouco que seja a bolha do twitter -, mesmo os estudados, acreditam em mudar as coisas através do voto. Ninguém reparou no que tem acontecido no país nos últimos anos? Eu gostaria muito de saber em que momento chegamos à conclusão de que o establishment se preocupa com a opinião pública. Foi quando Bolsonaro, apesar do imenso apoio popular, foi boicotado ao extremo pelo supremo, mídia e congresso? Ou quando no 7 de Setembro milhares foram às ruas protestar contra os desmandos de Alexandre, e nada aconteceu? Ou ainda quando milhares ficaram acampados em frente aos quartéis, para serem humilhados e escorraçados pelo próprio exército? Ou quando brasileiros, pessoas comuns, foram condenados a penas absurdamente longas por atos de vandalismo? A mensagem do sistema é clara: a vontade popular significa nada, ela só tem uso quando está alinhada ao que o establishment quer, porque nesse caso ela funciona como um verniz de legitimidade ao regime. Esta é, também, a função das eleições. Todos vimos o que acontece quando a vontade popular não segue o script. Repito: as eleições, nas democracias modernas, só servem para dar aparência de legitimidade ao regime.
Mas, se o regime não liga para a opinião pública, por que ele se importa em ter a aparência de legitimidade? Acontece que tudo funciona como um grande teatro, e um dos maiores receios do regime é que a cortina seja levantada. Me parece que todo regime ilegítimo tem uma estrutura piramidal. Na base, a massa que acredita nas boas intenções dos poderosos. É aquele aluno da federal, ou o cara que vive de bolsa família, ou os SJWs, que acham que a esquerda defende os pobres e oprimidos e os protege do capitalismo malvadão e do fascismo, que é tudo o que questione minimamente sua visão de mundo. No meio termo, estão os idiotas úteis, os artistas, blogueiros e influencers, intelectuais, classe média alta, professores universitários, que acreditam no sistema, no entanto diferem dos primeiros por terem um nível maior de cinismo, isto é, entendem as limitações e problemas graves do regime, mas estão dispostos a mentir e exagerar para convencer as pessoas da camada inferior. Aqui também estão os canceladores profissionais. Para eles, o regime está escusado ao ser autoritário pois está simplesmente “salvando a democracia” ou “protegendo o meio ambiente”. No topo, por fim, está o mal verdadeiro, aqueles que não acreditam no sistema, mas usam as outras duas camadas para se manter no poder e perseguir os que verdadeiramente se opõem. Esta classe é a minoria, claro, do regime. Ela precisa que as outras duas camadas mantenham um nível razoável de crença na sua legitimidade, para que continuem sendo úteis a eles, e por isso não pode ser exposto diante desses. O que aconteceu nos últimos anos, no Brasil, foi que a falha dos brasileiros em seguir o roteiro nas eleições de 18 e 22, e os inúmeros questionamentos nas redes sociais, fez com que o regime tivesse que mostrar um pouco sua face. Tudo o que aconteceu não é surpreendente, se trata apenas de uma besta perigosíssima que se viu acuada. O topo da pirâmide agiu com firmeza, a camada intermediária endossou e justificou, e a mais baixa aplaudiu.

As últimas revelações trazidas à tona pelo jornalista verdevaldo mostraram o que todos já sabíamos: as ordens de censura provenientes do supremo na figura do Ministro foram todas solicitadas e fabricadas sem respeitar o devido rito jurídico. A resposta do doido varrido? Intimar o coitado cujas conversas foram vazadas a depor perante a polícia federal. Além disso, ele ordenou ao twitter que apresentasse um representante legal no país, sob pena de suspensão das atividades. O que me admira são pessoas que comentaram estas últimas decisões fazendo críticas como se ainda estivéssemos na normalidade jurídica: “vejam, notificou por uma via errada”; “olha, o CEO do X não é o Musk”; “a starlink e o X não tem qualquer relação”. Mais ainda me admirou um pensador que respeito muito dizer que não poderíamos falar nas redes que a revelação das mensagens entre os assessores do Ministro “não ia dar em nada”. Segundo ele, os serviços de inteligência que monitoram as redes as utilizam como um termômetro da opinião popular, e decisões são tomadas baseadas nisto. Mas, não seria ingenuidade achar que o topo da pirâmide leva isso em conta? O que ocorre é o contrário, a busca pelo discurso único nas redes serve ao mesmo propósito das eleições: dar aparência de legitimidade ao regime e manter fiéis as camadas inferiores da pirâmide.
O que o regime não quer é ter que usar a violência e repressão de verdade, e enfim ser exposto aos olhos do mundo como ditadura real. Disso vêm sanções econômicas pesadas como as que a Rússia vem sendo submetida, e isso a oligarquia não quer. Talvez o Ministro seja só um cão raivoso que foi atiçado além da conta, e agora não se pode controlar. Se este for o caso, é possível que esse vazamento das mensagens seja uma estratégia para justificar a sua derrubada. Porém vendo a facilidade com que os outros membros do tribunal endossam o colega desvairado, não me parece. Além do mais, mesmo que ele caia, o que impede de algo semelhante ao que ele fez ser realizado por outro colega? É possível também que as oligarquias tenham abandonado de vez a ideia de manter a aparência de legitimidade, e partam para o franco totalitarismo, seja ele de origem globalista/progressista como no Reino Unido, Canadá e Alemanha ou de origem eurasiana/militar como China e Rússia, e talvez esse seja o embate entre as forças que, neste momento, estão aliadas por conveniência. O principal é que o autoritarismo interessa a ambas. É difícil prever qualquer cenário, mas se eu fosse apostar diria que o sistema vai continuar na fantasia e fingir que estamos em uma democracia, o congresso vai ter cada vez menos poder e a aliança continuará, até o momento em que o conchavo globalista/progressista descarte o painho e seus amigos, isto é, quando produzirem alguma outra personagem política capaz de angariar uma determinada quantidade de votos que torne sua vitória nas eleições verossímil. Talvez alguma figura mais “neutra” articule um ligeiro retrocesso do supremo, para apaziguar os ânimos, uma ou outra emenda seja passada, e a sensação de que alguma coisa foi feita pode enganar a maioria. Tomara que eu esteja errado.
Enquanto isso, políticos e personalidades “didireita” têm convocado o povo para mais uma manifestação de rua. O establishment sabe que mesmo esses milhares ou até mesmo centenas de milhares que estarão nas ruas, ainda assim, são minoria. Eles têm as forças armadas, a polícia federal e a Globo. Se Alexandre cair, não vai ser por causa dessa manifestação. O pior é que, se ele cair, muita gente inteligente vai achar que foi por exatamente por isso. Das ilusões que o conceito de democracia criou no ocidente, para mim, esta é a pior: a de que a vontade popular importa para o poder central.
Gaetano Mosca estava certo desde o início. Nesse sentido, o modelo medieval (e os da antiguidade também) de oratores, bellatores e laboratores é mais honesto, com uma classe de trabalhadores que, na prática, são como gado, o clero que dá um verniz de legitimidade a todo aquele regime, e os nobres que de fato governavam. Some tudo isso a moral cristã com a noções de caridade/dever/etc e temos um regime decente. Isso sem entrar em toda a questão religião vs secularismo, que ai é uma outra história muito mais longa. Mas diz ai, quem é esse tal pensador que você admira?